No entanto, embora o software com esses recursos possa ser acessado por órgãos de investigação, os especialistas em segurança cibernética acreditam que esses sites são provavelmente golpes. Em vez disso, o uso do stalkerware depende, em grande parte, de uma “engenharia social”, com a qual Charlotte diz que as pessoas podem aprender a ter cuidado e evitar.
O alvo pode receber uma mensagem de texto, que parece verídica, convidando-o a clicar em um link. Ou um aplicativo falso, disfarçado de legítimo, pode ser compartilhado com ele.
Se tudo falhar, Charlotte recomenda fazer uma redefinição de fábrica do telefone, alterando todas as senhas de suas contas de redes sociais e usando autenticação de duas etapas o tempo todo.
Os especialistas dizem que não é preciso ter medo de excluir um aplicativo suspeito do seu telefone
Então, qual seria a melhor forma de enfrentar o problema?
A maioria dos países já possui algum tipo de estatuto de escuta telefônica e leis anti-stalking em vigor.
Por exemplo, em 2020, a França apresentou um novo projeto de lei sobre violência doméstica que, entre outros pontos, reforçou as sanções à vigilância secreta: o rastreamento geográfico de alguém sem o seu consentimento agora é punível com um ano de prisão e multa de € 45 mil (R$ 290 mil ). Se isso for feito pelo parceiro, as multas serão potencialmente ainda maiores.
Caminhos a seguir
Mas, para Eva Galperin, esse não é um problema que possamos esperar que uma nova legislação resolva inteiramente.
Ela acha que tanto o Google quanto a Apple poderiam, por exemplo, agir tornando impossível a compra de qualquer um desses aplicativos em suas lojas.
Crucialmente, ela acrescenta, o foco deve ser em um melhor treinamento para que a polícia trate o problema de maneira mais rigorosa.
Um dos maiores problemas que ela diz ver, é que as vítimas procuram a aplicação da lei na intenção de que ela seja cumprida. Porém, as autoridades fazem vista grossa e “dizem que esse não é um problema” prioritário.
A proliferação do cyber-stalking também trouxe um novo tipo de serviço de apoio às vítimas de violência doméstica.
A Clinic To End Tech Abuse – Ceta – é uma dessas instalações, associada à Cornell University nos Estados Unidos. A Ceta trabalha diretamente com sobreviventes de abusos, ao mesmo tempo em que coleta pesquisas sobre o crescente uso indevido de tecnologia.
Rosanna Bellini, do Ceta, diz que normalmente eles não recomendam a remoção imediata do stalkerware do telefone da vítima – sem fazer um planejamento de segurança primeiro com um responsável pelo caso.
A experiência anterior revelou esta abordagem: se o acesso do agressor ao telefone da vítima for cortado repentinamente, isso pode levar a uma escalada de violência.
Para Maria, que está livre do casamento abusivo há seis anos, as coisas não estão perfeitas, mas melhorando.
“Tenho um bom relacionamento com alguém que realmente se preocupa comigo e me apoia, ajudando a construir minha história”, diz ela.
Ainda há momentos em que ela fica ansiosa ao lidar com o telefone. Ela foi diagnosticada com transtorno de estresse pós-traumático (PTSD). Mas ela quer que outras vítimas saibam que a perseguição cibernética é enorme e que não estão sozinhas.
“Não tenha medo. Há ajuda lá fora. Fiz grandes avanços e, se posso fazer isso na minha idade, – aos 56 – qualquer um pode fazer.”