Sem Bolsonaro, governadores vão à COP26 apresentar ‘pauta verde’

O presidente Bolsonaro decidiu não participar do encontro, que deve fazer duras críticas a sua gestão

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Já que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não irá à COP26, que começou ontem em Glasgow, e com a imagem do Brasil cada vez mais danificada internacionalmente, dez governadores vão à cúpula apresentar sua própria pauta verde. Um consórcio formado por governadores pretende fazer o contraponto à imagem de negacionista ambiental do governo federal.

“Construímos um consórcio que tem o objetivo de ajudar o Brasil a alcançar as suas metas”, explicou o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), que preside o Consórcio Brasil Verde, criado pelo Fórum de Governadores.
“Não temos nenhum objetivo de disputar ou concorrer com o governo federal. Ele é o grande negociador do tema climático em qualquer conferência. Mas o consórcio pode ajudar o Brasil a alcançar as suas metas, pode desenvolver políticas e se articular nacional e internacionalmente, representando os estados e mostrando também a fotografia do Brasil nessas conferências.”
O consórcio já teve a adesão de 22 governadores. Desses, 10 participarão das conversas na conferência em Glasgow:
  • Camilo Santana (CE);
  • Carlos Moisés (SC);
  • Eduardo Leite (RS);
  • Hélder Barbalho (PA);
  • João Doria (SP);
  • Mauro Mendes (MT);
  • Paulo Câmara (PE);
  • Renato Casagrande (ES);
  • Romeu Zema (MG);
  • Wellington Dias (PI).

 

Na COP26, o Brasil será oficialmente representado pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, e o embaixador Paulino de Carvalho Neto como chefe da missão. Bolsonaro informou na última semana que não iria, por questão “estratégica”.
Em vez disso, ele optou por assistir uma homenagem a militares que lutaram na Segunda Guerra Mundial, na Itália, e fazer uma visita à cidade de seus antepassados, no norte do país europeu.
O chanceler brasileiro, Carlos Alberto França, também não irá ao maior evento diplomático dos últimos dois anos.
Aumento nas emissões de carbono do Brasil deve gerar cobranças.
A expectativa para os próximos dias é que o Brasil seja cobrado por ambientalistas e demais líderes pelos dados de desmatamento e emissões de carbono, que só cresceram nos últimos três anos.
O relatório mais recente do Observatório do Clima mostrou que o país aumentou em 9,5% a emissão de gases de efeito estufa em 2020, indo na contramão mundial, em que houve uma queda de 7%. Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) também mostram um aumento de 7,13% nas taxas de desmatamento da Amazônia entre 2019 e 2020.
Nas vésperas da conferência, o governo brasileiro apresentou seu Programa Nacional de Crescimento Verde, e pretende se vender como um país preocupado com a pauta climática. O programa, porém, foi duramente criticado por especialistas por ser muito vago e apenas “pintar de verde” velhas promessas.
Esta é a situação que os governadores brasileiros encontrarão na conferência e terão trabalho em convencer de que haverá mudanças.
“Vamos estar em 10 na Escócia e isso mostra uma preocupação que os governadores passam a ter com o tema que até pouco tempo não tinham tanto. Era um assunto que só o governo federal tratava”, explica Casagrande.
Consórcio de governadores defende zerar desmatamento e acelerar uso de energias renováveis.
Essa COP será a primeira depois que o Acordo de Paris, assinado em 2015 pelas nações, passou de fato a valer. Em suas metas, o Brasil prometeu reduzir em 37% as emissões de gases de efeito estufa até 2025, em comparação com os valores de 2005, e 43% até 2030. E, por fim, zerar a emissão de carbono líquido até 2060.
O desmatamento e as queimadas nas florestas são a maior fonte de aumento nas emissões brasileiras, segundo o Observatório do Clima.
Casagrande confia que o Brasil pode reduzir a zero os seus desmatamentos, e pretende levar isso à conferência. “A ação mais objetiva que o Brasil pode fazer no curto prazo é zerar o desmatamento. Isso é possível, tem tecnologia pra isso. Só precisa ter a decisão política de fazer, e investimento”.
O governador também defende que o Brasil seja ainda mais audacioso em suas metas de transição energética. “Tem que ter uma pressa nessa energia renovável”.
O consórcio ainda está em fase de formalização, mas já conta com a participação do Distrito Federal e dos estados de Alagoas, Amapá, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grasso do Sul, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio Grande do Norte, Roraima, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins.