Golpe está deflagrado, se não fosse o STF já estaríamos na ditadura

"Nós já estamos no golpe de estado, é que as instituições ainda não acordaram, e se não fosse o STF nós já estaríamos numa ditadura. Temos uma dívida histórica com o STF"

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Para o historiador e colunista do UOL, Marco Antônio Villa, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já “deflagrou” um golpe de estado no Brasil, mas a ditadura só não foi implantada graças aos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). Ao UOL News, ele destacou que o Congresso Nacional, inclusive a sociedade civil, tem “reagido de forma muito tímida aos avanços totalitários” do atual chefe do Executivo Federal.

“Nós já estamos no golpe de estado, é que as instituições ainda não acordaram, e se não fosse o STF nós já estaríamos numa ditadura. Temos uma dívida histórica com o STF”, afirmou.

Villa repercutiu o discurso feito por Bolsonaro hoje em Brasília, quando falou para seus apoiadores e, em recado para o presidente do STF, ministro Luiz Fux, disse que ou ele “enquadra os seus, ou esse Poder pode sofrer aquilo que não queremos”. Segundo a colunista do UOL, Carolina Brígido, os ministros do Supremo viram ameaça na fala do mandatário.

“Os ministros do Supremo entenderam, a linguagem foi bem direta”, disse Villa sobre o discurso de Bolsonaro, ressaltando que, apesar de o presidente ter “dificuldades no vocabulário”, ser “uma pessoa semiletrada”, com “dificuldade de construção de raciocínio, a fala dele” é bem direta em suas pretensões golpistas.

Para o historiador, ao mandar recado a Fux, Jair Bolsonaro demonstra desconhecer a forma de operacionalização do STF, que não é uma estrutura hierárquica, similar ao Exército, por exemplo.

“Ele desconhece inclusive o funcionamento do STF. Agora a ameaça é clara, ele está dizendo que se não seguir o que ele determina, ele fecha o Supremo. Ele diz que não cumprirá as decisões judiciais que ele discorda, fala de supressão do STF, e ataca diretamente o ministro Alexandre de Moraes, e de uma forma que está quase ameaçando de morte [o ministro]”, destacou.

Segundo Villa, as manifestações deste 7 de Setembro marcam um ponto de inflexão na história do país, e diz acreditar que o golpe “já foi deflagrado, só que não é um golpe daqueles tradicionais, da história da América Latina”.

“Ele [o golpe] tem particularidades, é um golpe homeopático, eles vão solapando paulatinamente as instituições, desmoralizando até o momento de fechar o Congresso, o Supremo e impor a ditadura”.

Bolsonaro aposta no medo e na intimidação, diz Boulos.

Hoje, também entrevista ao UOL News, o coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) “está acuado, aposta no medo e na intimidação” para se manter no governo.

Para Boulos, as manifestações realizadas em várias cidades do país hoje “não estão fora do esperado” e Bolsonaro “jogou todas as suas fichas” nesses atos, sobretudo em um momento no qual a popularidade do presidente continua caindo, a inflação “explosiva”, aumentos consecutivos nos preços da gasolina, botijão de gás, conta de luz, alimentos, além da “tragédia humanitária” provocada pela pandemia de coronavírus da qual, diz ele, o mandatário “é sócio”.

“Bolsonaro dobra a aposta, essa tem sido a tática dele ao longo do governo. Esse 7 de Setembro também revela um Bolsonaro fragilizado, com 25% de aprovação na sociedade, uma inflação explosiva no Brasil, o preço da gasolina elevado, do botijão de gás, nos alimentos, sem capacidade de dar uma resposta para a crise econômica, e depois de uma tragédia humanitária, da qual ele é sócio, no enfrentamento a pandemia. Esse cenário fez o Bolsonaro ficar acuado”, declarou.