Destroços de foguete chinês podem cair ainda neste sábado sobre a Terra; risco de danos é mínimo, segundo especialistas

Probabilidade de impacto numa área habitada é 'ínfima, menos de um em um milhão, sem dúvida', tranquiliza Nicolas Bobrinsky, chefe do departamento de Engenharia e Inovação da Agência Espacial Europeia (ESA).

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Um risco de estragos “baixo” ou mesmo “ínfimo”, mas não zero: um foguete chinês deve retornar, sem controle, à atmosfera terrestre neste final de semana. China e muitos especialistas consideram, porém, a hipótese de danos na Terra mínima.

O país asiático colocou em órbita o primeiro módulo de sua estação espacial em 29 de abril, graças a um foguete Longa Marcha 5B – o mais poderoso e imponente lançador chinês. É a primeira parte deste foguete, atualmente em órbita, que deve retornar à Terra. O objeto está perdendo altitude gradualmente e seu ponto de queda ainda é desconhecido.

A China tem sido muito discreta sobre o assunto e não publicou nenhuma previsão sobre o horário que o lançador entrará na atmosfera terrestre, ou onde deveria se desintegrar total ou parcialmente.

Para a agência espacial russa Roscosmos, a entrada pode acontecer neste sábado às 23h30 pelo fuso GMT (20h30 no horário de Brasília), no sul da Indonésia. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos estima que será às 23h GMT (20h de Brasília), com uma margem de erro de nove horas.

Após um longo silêncio constrangedor das autoridades espaciais e diplomáticas chinesas, Pequim finalmente se manifestou na sexta-feira. “A maioria dos componentes (do foguete) vai queimar na reentrada na atmosfera”, assegurou Wang Wenbin, porta-voz do ministério de Relações Exteriores da China. “A probabilidade de causar danos às atividades aéreas ou (a pessoas, edifícios e atividades) em solo é extremamente baixa”, disse ele.

Imprensa discreta

A imprensa chinesa pouco falou sobre o evento, contentando-se em repetir neste sábado as declarações feitas na véspera pelo porta-voz da diplomacia. Se partes do foguete permanecerem intactas após o retorno na atmosfera, há uma boa chance de que caiam no mar, uma vez que 70% do planeta é água.

“Esperamos que caiam em um lugar onde não prejudiquem ninguém”, declarou na sexta Mike Howard, porta-voz do Departamento de Defesa dos Estados Unidos.

O secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, garantiu esta semana que seu país não tem intenção de destruir o foguete. Ele deu a entender, porém, que seu lançamento não foi planejado com os devidos cuidados pela China.

O risco de destroços do lançador atingirem uma área habitada existe, mas é improvável, de acordo com vários especialistas entrevistados pela AFP. “Dado o tamanho do objeto, inevitavelmente restarão pedaços grandes”, antecipa Florent Delefie, astrônomo do Observatório Paris-PSL.

Mas a probabilidade de impacto numa área habitada é “ínfima, menos de um em um milhão, sem dúvida”, tranquiliza Nicolas Bobrinsky, chefe do departamento de Engenharia e Inovação da Agência Espacial Europeia (ESA). 

“Não há necessidade de se preocupar muito”, observa Jonathan McDowell, astrônomo do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, nos Estados Unidos, e especialista em detritos espaciais. “Mas o fato de uma tonelada de fragmentos metálicos atingir a Terra a centenas de quilômetros por hora não é uma boa prática, e a China deveria revisar suas missões para evitar isso.”

Avanço espacial chinês

Em 2020, destroços de outro foguete, o Longa Marcha, caíram em vilarejos na Costa do Marfim, causando danos, mas sem feridos. Em abril de 2018, o laboratório espacial chinês Tiangong-1 se desintegrou ao entrar na atmosfera, dois anos depois de parar de funcionar.

A China vem investindo bilhões de dólares em seu programa espacial há várias décadas. O país asiático enviou seu primeiro astronauta ao espaço em 2003. No início de 2019, pousou um robô no lado oculto da Lua.

No ano passado, trouxe amostras da Lua e finalizou o Beidou, seu sistema de navegação por satélite (concorrente do GPS americano). Pequim planeja pousar um robô em Marte nas próximas semanas e também anunciou sua intenção de construir uma base lunar com a Rússia.