‘A vida em um dia 2020’ convida público a gravar junto uma ‘biografia do planeta’, diz diretor

Cineasta ganhador do Oscar Kevin Macdonald repete parceria com Ridley Scott e YouTube dez anos após 1º documentário, que recebeu mais de 4,5 mil horas de vídeos do mundo inteiro.

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Se o mundo mudou muito desde janeiro, imagina então nos últimos dez anos. As diferenças poderão ser vistas de forma mais clara em “A vida em um dia 2020”, documentário colaborativo que vai reunir mais uma vez o diretor Kevin Macdonald, o produtor Ridley Scott, o YouTube e milhares colaboradores de todo o mundo.

O projeto é uma nova versão do filme lançado em 2011 como comemoração dos cinco anos da plataforma de vídeos. O original contou com mais de 4,5 mil horas de vídeos gravados por pessoas de 189 países no mesmo dia, 24 de julho de 2010.

“Vejo ele como um retrato do mundo naquele dia, como ao tirar uma única foto de todos na Terra no mesmo dia”, diz Macdonald em entrevista ao G1.

“É meio que uma biografia do planeta.”
 

E de biografia o escocês de 52 anos entende bem.

Ganhador de um Oscar em 2000 pelo documentário “Munique, 1972: Um Dia em Setembro”, sobre o atentado terrorista ocorrido durante os Jogos Olímpicos de 1972, ele tem uma carreira marcada por obras que contam histórias de vidas notáveis.

Em “O último rei da Escócia” (2006), por exemplo, dirigiu James McAvoy e Forest Whitaker em uma versão ficcionalizada da vida do ditador de Uganda, Idi Amin Dada.

No novo “A vida em um dia”, a ideia é que as pessoas mandem vídeo gravados apenas durante este sábado (25). Veja como se inscrever e enviar o material no site do projeto.

Eles podem incluir momentos especiais e grandes eventos, como festas e casamentos, mas a expectativa é que em sua maioria sejam da rotina dos colaboradores – que devem receber crédito como codiretores.

Após a seleção do conteúdo enviado e da edição, o filme tem estreia prevista no começo de 2021, no Festival de Sundance, nos Estados Unidos. Depois disso, ficará disponível no YouTube.

Vida real, por favor

Entre as principais mudanças nessa década, o diretor vê principalmente a forma como as redes sociais e os smartphones se tornaram uma parte integral da vida da maior parte da população.

Isso facilita a produção do conteúdo, mas também cria um problema.

“Há uma certa preocupação que todo mundo mande apenas imagens perfeitas, prontas para o Instagram, de versões de suas vidas (risos). Todo mundo fazendo suas vidas parecerem perfeitas”, afirma o diretor.

“Mas eu não acho que isso vai acontecer. Porque com a Covid-19, e o momento em que estamos vivendo, as pessoas estão muito reflexivas, estão examinando suas vidas e pensando nelas. Então acho que o momento é acidentalmente muito bom.”

Surpreendidos novamente

Os planos para o retorno ao projeto começaram muito antes do começo da pandemia. Mesmo quando a ideia foi aprovada e confirmada por todas as partes, em março, ninguém achava que em julho grande parte do mundo ainda estaria em quarentena.

“Nessa época a pandemia estava começando a virar um grande problema, mas todos pensamos teria acabado em maio, ou junho, e as pessoas estariam voltando à normalidade”, diz Macdonald.

“Mas é fascinante. Esses filmes são sobre as conexões da humanidade, sobre como estamos todos conectados. E a Covid-19 é isso, ela nos lembra que estamos todos nessa juntos.”

Não dá para ver tudo

Com a noção de que o novo documentário deve receber muito mais colaborações que as cerca de 80 mil do original, o cineasta conta com as lições aprendidas em 2010 e com uma equipe de cerca de 30 assistentes.

Fluentes em diferentes idiomas, eles assistirão a todo o material, com uma classificação de 1 a 5 para cada vídeo enviado – de “não vale a pena” a “isso precisa ser visto”.

Afinal, ele jamais conseguiria conferir todo o conteúdo sozinho. Na produção do primeiro filme, ainda passou dois meses assistindo a todo o material já selecionado.

“Eu acho que, de todos os filmes que eu fiz, é um dos meus favoritos, se não o favorito, porque parece não ser realmente meu. Ele pertence a todas as pessoas cujos vídeos estão nele”, afirma o escocês.

“Eu fui apenas a pessoa que teve sorte suficiente para estar vivo e juntar todas essas partes. Esse lado é o que mais me anima para voltar.”

Apelo do diretor

Ao final da entrevista, o diretor bem-humorado faz um último apelo, ciente das mudanças de hábitos da população. Mais confortáveis com a produção de seus próprios conteúdos, as pessoas também adquiriram vícios.

“Eu não quero que gravem verticalmente, quero que gravem na horizontal.”

“Por favor, diga às pessoas que gravem horizontalmente”, brinca Macdonald, entre risos um tanto desesperados.

“Claro que se alguém gravar algo incrível, com um personagem ou história fascinante, vai entrar no filme. Mas vai deixar o resto menos bonito. Estou pedindo para que as pessoas pensem em como o filme vai ficar na tela grande do festival de Sundance, não como fica em seus celulares (risos).”