Profissionais são alvo de ataques e ‘fake news’ após entidade divulgar nota contra uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19

Na última sexta-feira (17), a Sociedade Brasileira de Infectologia publicou posicionamento na qual alertam que novos estudos reforçam que o medicamento deve ser abandonado no tratamento de qualquer fase da doença.

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Desde que divulgou seu novo posicionamento contra o uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) relata que membros da entidade passaram a sofrer ataques e se tornaram alvo de “fake news” nas redes sociais. Segundo a SBI, as postagens se valem de “discurso de ódio” e “difamação”.

Nas postagens, os detratores falam contra a Organização Mundial da Saúde (OMS) e atribuem interesses comerciais e ligações políticas aos profissionais para desqualificar o posicionamento científico da SBI.

Na última sexta-feira (17), a SBI reafirmou ser contra o uso do medicamento em qualquer fase do tratamento contra o novo coronavírus. A entidade citou estudos científicos publicados na quinta-feira (16) para classificar como “urgente” que a droga deixe de ser utilizada por pacientes em diferentes fases da Covid-19, inclusive na sua prevenção.

Segundo a SBI, dois estudos clínicos robustos publicados em revistas médicas de prestígio (veja os links abaixo) comprovaram que a droga não foi eficaz no tratamento precoce da doença e ainda trouxe complicações aos pacientes.

Desde então, a associação relata ataques nas redes sociais. Em junho, um levantamento feito pelo G1 revelou que ao menos 79 denúncias foram registradas contra médicos e enfermeiros por divulgação de fake news ou ‘curas milagrosas’ durante a pandemia do novo coronavírus. Em 40 casos, foram abertas sindicâncias para apurar a denúncia; em seis, já há processos éticos.

Divergências

Na última quinta-feira (16), o Ministério da Saúde enviou um ofício à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, pedindo que a instituição dê ampla divulgação ao tratamento com uso de cloroquina e hidroxicloroquina como medicamentos que podem ser utilizados nos primeiros dias de sintomas de Covid-19. O pedido levou a reações, como a de um dos coordenadores da Fiocruz em Brasília, que classificou o ofício como “pouco profissional”.

Na sexta-feira (17), o Ministério da Saúde voltou a defender seu protocolo. O secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos, Hélio Angotti Neto, disse que “não há um consenso científico” sobre a droga, apesar de a Organização Mundial de Saúde (OMS) ter suspendido os testes com o medicamento.

Os últimos dois ministros da Saúde, Nelson Teich e Luiz Henrique Mandetta, deixaram o posto após discordar do presidente Jair Bolsonaro sobre o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 e sobre a adoção do isolamento vertical (apenas de idosos e população de risco) como forma de combate à pandemia.

OMS e Opas não recomendam uso

Em 10 de julho, a OMS, ao ser questionada sobre as afirmações do presidente Jair Bolsonaro sobre o uso de cloroquina, confirmou que não indica o uso para pacientes infectados com o novo coronavírus.

“A OMS não indica o uso da cloroquina em pacientes de coronavírus porque não conseguimos demonstrar um benefício claro a eles”, afirmou diretor de Emergências da OMS, Michael Ryan.

O diretor Marcos Espinal, do Departamento de Doenças Comunicáveis da Opas, que é braço da OMS nas Américas, reforçou em 19 de maio que “não há evidências para recomendar cloroquina e hidroxicloroquina contra a Covid-19”.