Cardume de peixe é filmado por ribeirinhos no AM, e pesquisador cita redução da pesca predatória com isolamento social

Fenômeno natural foi registrado durante pescaria, no município de Careiro da Várzea.

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Pelos rios próximos à capital amazonense é comum encontrar pescadores nas portas das casas (Tomaz Silva/Agência Brasil)

Um vídeo gravado por ribeirinhos mostrou a formação de cardume de jaraquis, espécies de peixe típica dos rios do Amazonas durante uma pescaria no município Careiro da Várzea, distante 28,3 km de Manaus na manhã desta sexta-feira (5). O fenômeno natural foi registrado durante a pescaria de moradores da comunidade São João, no interior do Amazonas. No vídeo, os comunitários se surpreendem com a imagem e comemoram a abundância da pescaria. Um pesquisador entrevistado pelo G1 afirma que a redução da pesca preparatória durante isolamento favoreceu o aparecimento dos cardumes na região.

Segundo os pescadores, com a diminuição da pesca predatória por conta da pandemia na região, os cardumes voltaram e os ribeirinhos da comunidade São João voltaram a pescar naquela área. O doutor em Ecologia e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Jansen Zuanon explicou que os jaraquis têm padrão complexo de movimentação e de migração.

Ainda segundo o especialista, o fenômeno visto já foi muito comum, mas com a alta demanda pelo pescado, tornou-se algo menos frequente. Com o isolamento social e a diminuição das atividades de pesca, os peixes voltaram a cena.

“A cena filmada é muito bonita, mas mostra apenas uma condição que era muito comum no passado, quando existiam cardumes gigantescos de jaraqui, e qualquer barco com uma boa rede conseguia pegar até 100 mil jaraquis em um único lance. A sobrepesca do jaraqui quase acabou com isso, com esse fenômeno muito bonito e o que estamos vendo agora é o começo de uma recuperação, por conta da tranquilidade gerada pela menor pressão de pesca”, disse.

No entanto, o pesquisador disse que não há motivos para comemorar, pois com a retomada das atividades de pesca, os peixes voltarão a se esconder.

“Apesar da linda cena, infelizmente não há motivos para ficar muito feliz, se pensarmos à longo prazo, cenas como essa talvez se tornem cada vez mais difíceis de serem vistas”, explicou.

Um levantamento feito pela Gerência de Apoio à Aquicultura e Pesca (Geape), do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam) e pela Colônia dos Pescadores de Manaus mostrou, em março deste ano que o jaraqui é a espécie é a mais consumida no Amazonas. Com o alto consumo, peixes se sentem amedrontados e se escondem, para fugir da ação de pescadores.

No Amazonas, o transporte fluvial pelos rios do estado está suspenso por conta da pandemia. O decreto que proíbe o transporte está em vigor desde março deste ano, após o aumento de casos da Covid-19.